Química

Incineração 

A incineração É poluente, ela própria é geradora de resíduos tóxico-perigosos, alguns dos quais MUITO MAIS tóxicos que os resíduos iniciais. Ninguém conhece todos os tipos de compostos emitidos por uma incineradora, ainda há inúmeros compostos cuja toxicidade e impacto no meio ambiente se desconhece.
Os principais poluentes (conhecidos) emitidos pelas incineradoras são os metais pesados (mercúrio, chumbo, cádmio) e as chamadas dioxinas (família de compostos organo-halogenados tais como as dioxinas propriamente ditas, os furanos, e os PCBs). No caso dos metais, a incineração não só não os elimina (a cisão de átomos só é possível por reacções nucleares), como ainda por cima os transforma em formas mais tóxicas e voláteis (como é o caso do mercúrio de cuja combustão com compostos orgânicos resulta o metilmercúrio, composto muitíssimo mais tóxico). Sobre as dioxinas basta dizer que são "os mais potentes tóxicos produzidos pelo homem alguma vez estudados" (traduzido à letra de um dos últimos relatórios da Agência do Ambiente dos EUA sobre estes compostos).
Tanto os metais pesados como as dioxinas caracterizam-se por ser bioacumuláveis, querendo isto dizer que o nosso corpo acumula-os sem os conseguir eliminar. Desta forma, mesmo pequenas quantidades ao longo do tempo podem resultar em riscos gravíssimos para a saúde. A esta situação acresce o problema da biomagnificação, onde se verifica que a exposição a estes poluentes é tanto maior quanto mais se sobe na cadeia alimentar. Ora o ser humano está no topo dessa cadeia.
O maior risco de exposição às dioxinas não é por via respiratória, mas sim por via alimentar através de leite, carne e peixe (pelas gorduras). Este risco chega a ser 1000 vezes superior ao resultante por inalação. É inconcebível pretender instalar este tipo de indústrias em zonas de elevada actividade agrícola, com especial incidência nos lacticínios e na produção de carne (como é o nosso caso), sem que, no mínimo dos mínimos, estes riscos tenham sido considerados e avaliados.
Diz-se que existem muitas incineradoras no estrangeiro (é verdade), e que não têm problemas (não é verdade).
Alemanha, Kehl-Strasbourg: em 16 de Fevereiro de 1993 um estudo de médicos de Kehl mostrou que o aumento de dioxinas no leite materno estava intimamente ligado às emissões das incineradoras vizinhas (uma de resíduos urbanos, e outra de resíduos perigosos da própria TREDI).
Inglaterra, Derbyshire-Birmingham: Novembro 1991, níveis elevados de dioxinas foram detectados no leite de gado vizinho a uma incineradora de resíduos perigosos (da Coalite Chemicals), tendo sido estabelecida uma ligação directa a essa incineradora.
Holanda, Roterdão, Julho 1989: o Governo Holandês proibiu a venda de leite e carne produzidos em 16 quintas vizinhas de duas incineradoras, uma de resíduos urbanos e outra de resíduos perigosos (da empresa AVR) devido à contaminação com dioxinas.
USA, Atlanta-Georgia, 1993: a Agência de Substâncias Tóxicas e Registo de Doenças realizou um estudo comparativo entre as pessoas vivendo num raio de 2,4Km de uma incineradora e as que viviam a 13Km. Os vizinhos mais próximos sofriam 9 vezes mais problemas de tosse e asma, e apresentavam 40% mais problemas neurológicos como formigueiros, insensibilidade transitória e falta de coordenação.
USA, St. Louis, incineradora de {\it Times Beach}, Maio 1996, uma quebra na alimentação eléctrica da incineradora causou a libertação de quantidades desconhecidas de dioxinas para o ar.
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Diz-se também que não há grande oposição (não é verdade).
França, cerca de uma centena de associações ambientalistas formaram uma coordenadora nacional contra os tóxicos, sua importação e exportação (coordenada pela Greenpeace de França), onde fazem uma oposição organizada e sistemática a todas as incineradoras. A coordenadora portuguesa, criada à cerca de um ano, foi inserida recentemente, como parceira estrangeira, nessa organização.
USA, Carolina do Norte, Setembro 1993: a empresa Thermalken retira a sua proposta de construção de uma incineradora de resíduos perigosos de 50.000ton/ano após uma intensa oposição dos cidadãos.
USA, Califórnia, 1993: a empresa Chemical Waste retira a sua proposta de construção de uma incineradora de resíduos perigosos.
USA, Ney Jersey, 1993: a empresa Du Pont cancela a construção de uma incineradora de resíduos perigosos.
(Estarreja ... ?!?)

O controlo do funcionamento das incineradoras é feito ou de uma forma indirecta (assumindo uma correspondência entre as emissões de um determinado composto, como por exemplo o monóxido de carbono, com a emissão de outros poluentes) ou pontualmente (como é o caso das dioxinas, medidas uma ou duas vezes por ano com conhecimento prévio da empresa), sendo o controlo directo inexistente para a maioria dos poluentes emitidos. O controlo indirecto é uma aproximação grosseira da eficácia de destruição. Por sua vez o controlo pontual, em geral feito com o conhecimento prévio da indústria (permitindo-lhe alimentar a incineradora com resíduos mais convenientes) pouco diz sobre as emissões durante o resto do tempo.
Dizer que uma incineradora de 35000 ton/ano tem uma eficácia de 99.99% de destruição (na prática esta eficiência é dificilmente verificada podendo descer aos 97%) equivale a dizer que, por ano são emitidos 3.5 toneladas de resíduos perigosos para o meio ambiente.
A incineradora NÃO É uma indústria como outra qualquer. Numa indústria normal os lucros vêm após a sua produção, numa incineradora o dinheiro é entregue juntamente com os resíduos, pelo o que quanto menos se gastar durante o processo da queima (reduzindo ou relaxando as filtragens e controles por exemplo) maior será o lucro. Esta situação agrava-se pelo facto da principal concessionária ser uma empresa privada (TREDI), e por o Estado -- que deveria ser a entidade fiscalizadora -- ser um dos promotores, apoiantes e co-financiadores do projecto.
Em França, segundo dados da GREENPEACE Francesa, a TREDI é uma das principais responsáveis pela importação de resíduos perigosos para incineração em França.
Após a incineração, as escórias e cinzas resultantes SÃO resíduos perigosos (em parte, bastante mais perigosos que os originais), com um único destino possível: um aterro de resíduos perigosos.

Os Resíduos Tóxico-Perigosos 

Em relação às duas tendências para lidar com resíduos perigosos -- a PREVENÇÃO e os tratamentos de fim de cadeia -- o Governo apenas parece querer investir na segunda. Sabendo-se que o problema primeiro dos tóxicos é a sua própria existência, é inaceitável que o Governo não faça estudos sobre a REDUÇÃO destes produtos.
Sabendo os riscos e problemas da incineração e dos aterros é inaceitável que o Governo não estude alternativas possíveis de reutilização, reciclagem ou, em último caso, de tratamentos alternativos. Sabe-se que, nomeadamente, os dissolventes e óleos usados (por exemplo) podem (e devem) ser substituídos por produtos não clorados (a fonte primeira das dioxinas) e, alternativamente, ser reciclados. Sem estes produtos, altamente combustíveis, dificilmente uma incineradora de resíduos perigosos faria sentido.
O problema existência de resíduos perigosos não se põe apenas na sua eventual eliminação final, já que estes apenas representam uma parcela dos poluentes gerados durante os processos de fabrico sujos que lhes deram origem. Pelo que a resolução do problema tem de passar pela mudança desses processos de fabrico.
Enquanto se persistir em não atacar a origem destes problemas tapando o sol com uma peneira (ou seria com contrapartidas?!?), poluir certamente que continuará a compensar por muito, muito tempo.

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